Antes do diagnóstico, eu já era uma pessoa bem empática. Tinha uma conexão natural com o outro. Como profissional da saúde, sempre procurei chegar até o paciente com cuidado e muita presença.
Mas depois do diagnóstico… algo diferente aconteceu.
Uma amorosidade muito forte tomou conta de mim.
E sim, isso tem seu lado bonito, mas também seu lado desafiador.
Essa intensidade afetiva veio junto com uma transformação. Comecei a olhar para as pessoas com mais escuta, mais empatia, mais atenção. Hoje, por exemplo, se eu entro num táxi, já não enxergo só o motorista. Eu vejo uma história, um ser humano, um universo. Meu olhar mudou. Minha escuta mudou. Eu mudei, sabe?
Mas, ao mesmo tempo, desenvolvi algo que antes não era tão presente: a impaciência.
É estranho, eu sei. Hoje, eu sinto que a vida é valiosa demais pra ser desperdiçada com o que não faz sentido. Com conversas vazias, com desconexões, com lugares que não me cabem mais.
E é aí que começa um grande desafio: as pessoas ao meu redor continuam as mesmas. Só que eu renasci diferente.
Não é que os outros sejam ruins, ou errados. É que a minha frequência mudou. E quando isso acontece, certas conexões simplesmente não se encaixam mais.
É como se eu tivesse passado por um processo de morte simbólica. A Mari de antes deu espaço para uma nova versão de mim. Mais consciente. Mais sensível. Mais intensa.
E, por mais difícil que isso seja, é um processo que precisa ser respeitado.
Hoje, acredito profundamente que essa amorosidade que surgiu após o câncer tem um impacto direto na cura, emocional, física, espiritual. Porque a forma como a gente enxerga o outro também transforma o que a gente sente dentro da gente.
O câncer ainda é visto por muitos como sinônimo de morte. Mas quem já passou por isso sabe: ele também pode ser um convite à vida.
Um chamado para viver com mais verdade, mais presença e mais sentido. Um empurrão, ainda que duro, para reavaliar o que importa, quem importa, e como a gente quer ocupar o nosso tempo daqui pra frente.
Se você também se sente fora do lugar, deslocada, desconectada de quem você era antes… saiba: isso é parte do processo.
Um abraço beeeeeem apertado,
Mari Anjo Rosa ❤️